quinta-feira, 24 de junho de 2010


O que é uma Academia de Letras e para que serve?
José Feldman*
Antes de falarmos de “imortais” que compõem as academias de letras que existem no Brasil, a grande dúvida de grande parte da população é que são estas academias e como se chega a elas.

Num encontro que tive recentemente numa Conferencia Estadual de Cultura, em Campo Mourão, um presidente de uma Associação de Literatos, despejou sobre mim as grandes vantagens de uma associação e falou mal das Academias. Segundo este nosso amigo, as Associações são livres para qualquer pessoa, não existem restrições como em uma Academia que possui um número limitado de membros. Uma Associação não cobra nada dos associados (pelo menos a dele), e todos os anos publica livros de qualquer escritor (não importando a qualidade), com dinheiro obtido em (desesperadamente) patrocinadores, assim como também não se preocupa muito com a qualidade do que é publicado.

O interessante de tudo é que, as Associações (não digo todas), que não possuem um mecenas que as patrocinem e não cobram alguma mensalidade são fadadas a ruir, pois não existe meios de sobrevivência. Infelizmente, no mundo que vivemos atualmente, sem dinheiro não há como viver. E o que mais chama a atenção é que estas pessoas defendem com todas as forças esta posição e o que observamos são instituições falidas.

Isto foi apenas uma pequena entrada. Vamos nos ater a que é uma Academia de Letras, porque os membros ocupam cadeiras (não poderiam se chamar poltronas ou sofás?), qual o objetivo de uma Academia?

A primeira academia foi fundada, na Grécia antiga, cerca de quatro séculos antes de Cristo, por Platão que dedicou às musas (sobre estas falaremos em outra oportunidade). Compunha-se de uma biblioteca, uma casa e um jardim. Segundo a tradição, o jardim seria do herói ateniense Academus, da guerra de Tróia, de onde se originou o termo "academia". Nessa escola, mestres e discípulos trocavam experiências sobre filosofia, matemática, música, astronomia e legislação.  Seguido a ela houve a Academia do Meio, fundada pelo filósofo platônico grego Arcesilaus; e a Nova Academia, fundada pelo filósofo grego Carneades.

Nos séculos XIII e XIV, na época do renascimento na Europa, diversas academias de poetas e artistas começaram a se destacar na França e Itália. A mais famosa foi a Accademia Platônica, fundada em Florença por volta de 1440, que se aprofundou no discurso da obra de Platão, Dante e do aprimoramento da língua italiana.

Em 1635, o Cardeal Richelieu funda a Academia Francesa, que até hoje serve de base para todas as outras academias. Era formada por 40 cadeiras, cujos ocupantes perpétuos eram eleitos pelos mais antigos, depois de apresentarem suas qualificações.

Provavelmente, como o novo acadêmico tinha que lembrar sobre o seu antecessor (hoje chamado de patrono), surgiu a origem da enigmática expressão `acadêmico imortal`. Como entidade autônoma, a Academia inicia-se em meados do Século XVIII. Seu prestígio se devia da estima consensual pelas humanidades e a valorização da tradição escrita. No Brasil, a primeira Academia de Letras surgiu no Rio de Janeiro, em 1896, sob a presidência de Machado de Assis.

A partir daí, surgiram academias de grande porte e respeito como a Academia de Letras do Brasil, Academia de Letras Maçonicas, etc. E, em cada cidade que pudesse suportar a criação de uma academia que conseguisse congregar cerca de 40 membros, foram criadas, como aqui no Paraná, em Maringá, em Londrina, em Paranavaí, em Curitiba, em Campo Mourão, e várias outras. Se contarmos a nível de Brasil, existem centenas de academias.

Agora vamos a segunda questão. O que são Cadeiras?

Na época da Academia Francesa todos os escritores, quase todos plebeus e pobres, promovidos, por isso, no Louvre, no palácio do rei, onde se reuniam, à situação de príncipes, duques, cardeais,  sentavam-se em fauteuil (a poltrona, é, simbolicamente, um pequeno trono). Daí vem o prestígio da poltrona, da cadeira acadêmica .

Os lugares dos membros efetivos, chamados "Cadeiras" são vitalícios. Quando alguém é convidado foi longa e cuidadosamente avaliado sua produção literária e ou sua atividade em prol da cultura. Uma vez aceito, os acadêmicos (membros efetivos) tratam-se por "confrades" e "confreiras" e devem manter entre eles uma convivência social que faz parte do espírito acadêmico desde a criação das academias.

As Academias consideram Cadeiras, os lugares a serem ocupados pelos membros aprovados nelas, que sempre levarão o nome do literato, imortalizados nelas, mesmo após sua morte e sendo ocupado por novo membro.

De acordo com as regras da Academia francesa, no século XVIII, as Academias de Letras possuem um número fixo e vitalício de membros, ocupando cadeiras numeradas (geralmente de 1 até 40), que são vitalícias.

A partir do momento que é eleito o novo membro, a cadeira passa a ser sua, independente da solenidade de posse, que é uma formalidade oficial para divulgar o novo Imortal. Existem casos, como o paranaense Emílio de Meneses que ocupou a cadeira mas faleceu antes da posse oficial.

Definido o que são Academias e suas origens e porque os assentos que ocupam os Imortais se chamam Cadeiras, para que serve uma Academia?

A princípio elas têm a finalidade precípua de promover o cultivo das letras e incentivar as atividades intelectuais e culturais. A congregação de pessoas que se dediquem as atividades literárias e artísticas nas mais diversas formas de expressão; realizar a promoção, divulgação e apoio às estas atividades. Realizar um intercâmbio com entidades congênitas no Brasil e exterior. Defesa da língua, do idioma.

Então, uma Academia (ao contrário de uma Associação como de nosso amigo que mencionei acima), preserva o nome dos escritores através dos tempos. O seu trabalho seja em escritos ou seja por sua atividade cultural será sempre lembrado pelas futuras gerações. Um exemplo pela sua capacidade cultural a ser seguido pelos que vêm posteriormente.

Claro que existem muitos nomes que não estarão ocupando estas cadeiras, talvez por serem desconhecidos além do município ou por terem falecido, ou mesmo por fazerem questão de se manter no anonimato. Contudo, procuramos fazer jus aos seus nomes prestando-lhes as devidas homenagens, preservando seus nomes através de nomes de entidades, de ruas, estátuas, etc.

O que vale mesmo é o trabalho que estes bravos heróis efetuam para o desenvolvimento da cultura brasileira, sejam aos tropeços, seja com derrotas, que acreditaram em seus ideais, em seus sonhos. A todos eles, devemos agradecer sempre e sempre o pouco ou o muito (segundo o ponto de vista de cada um) que possuímos. Sejam eles nas Academias ou fora delas.

José Feldman*

[José Feldman é escritor, poeta e trovador, presidente estadual pelo PR da Academia de Letras do Brasil, Consul municipal de Poetas del Mundo, delegado municipal da União Brasileira dos Trovadores, diretor da Academia de Literatos de Ubiratã, elaborador do blog Pavilhão Literário Singrando Horizontes (http://singrandohorizontes.blogspot.com)]

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Editoria-Literacia