quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

As mulheres e os homens de Mário Prata

Por Gabriel Perissé


A idéia é muito boa. Quase genial. Na verdade, uma idéia simples, óbvia, mas extremamente produtiva. Mario Prata olhou os nomes de sua agenda telefônica e teve uma visão. Cada nome lhe renderia uma história, uma anedota, um causo, um chiste que, somados, formariam um livro. Não deu outra.

De A a Z, mais de duzentos nomes. Nomes de gente famosa ou de ilustres desconhecidos. No fundo, Mario Prata fez uma autobiografia contada pelo viés da vida alheia. E a vida alheia é parte substancial da nossa vida! O autor grampeou sua agenda, e ouviu cada uma...

O livro, falemos sem medo, resvala o tempo todo para as fofocas (e quem não gosta de ouvir uma, de vez em quando?), cujos protagonistas pertencem à vida artística brasileira. Estão lá Dias Gomes, Bibi Ferreira, Caetano Veloso, Marília Gabriela, Hebe Camargo, Fernando Sabino, Chico Buarque, Lima Duarte, João Ubaldo Ribeiro, Grande Otelo, José Wilker, Irene Ravache, Ziraldo, Vinícius de Moraes, nomes que, talvez, alguém sonhasse ter na sua agenda também.

Mas são fofocas demais, e algumas de péssimo gosto. Quem saiu com quem, quem traiu quem, quem telefonou para quem, quem pegou carona com quem, quem passou vexame, enfim, conversas que não acabam nunca, num boteco do Leblon, sobre fiascos alheios e próprios, sobre proezas próprias e alheias, sobre mil dólares emprestados, sobre um trocadilho que alguém improvisou numa viagem, sobre, até mesmo, uma aeromoça que transa por telefone com o autor. Puxa, que interessante!

O estilo de Mario Prata está todo aqui: astúcia verbal, cinismo, leviandade, ironia cruel, histórias curiosas, frases certeiras, graça, senso de humor implacável, algo de Nelson Rodrigues, algo de Millôr Fernandes —um belo desperdício de talento.

Mas o importante é que o livro entrou (ou já estava lá desde o começo?) na lista dos mais vendidos. Os editores estão contentes. Os livreiros estão contentes. As pessoas mencionadas no livro devem estar contentes. Até os leitores parecem contentes. O autor, bem, o autor está contente. Mas eu me pergunto se a cultura brasileira está contente e que tipo de leitor eu saio depois dessa leitura.

Posso falar com toda a franqueza? Penso que foi um acerto comercial mas um erro editorial publicar este livro.

Se Mario é de prata, melhor seria o silêncio, que é de ouro.

[Minhas mulheres e meus homens, Editora Objetiva, 1999, 252 páginas.]
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