Você sabia que a
América Latina América Latina está se afastando da África 7 cm por ano?
Quer
dizer, se você tem 30 anos, em sua vida esses continentes se afastaram uns 2
metros. Parece nada. Mas é mais fantástico se pensarmos que há 225 milhões de
anos éramos um só continente- a Pangéia.
Não
estou inventando isto. Isto não é literatura fantástica, tipo José Saramago que
em “A jangada de pedra” inventou que a Península Ibérica se desgarrou da Europa
e saiu navegando em direção à América. Acho que ele estava fazendo uma metáfora
sobre o lugar da Espanha e Portugal na cultura contemporânea. Parece que ele
errou. Aqueles países estão mais integrados que nunca na Europa. Mas nem por
isto o romance deixa de ser instigante.
E,
nesta semana, eu estava falando dessas coisas simbólicas para 29 diplomatas
africanos num curso que o Itamaraty resolveu criar para reaproximar a África do
Brasil. A gente não pode deixar nossa vida à mercê das placas tectônicas que se
movem no subsolo da terra e da história.
Em
geral o Brasil nunca se preocupou com a África. Era uma espécie de mãe ou irmã
longínqua. África era um assunto de baianos, a Bahia era uma nação africana
dentro do Brasil, e basta. Mas as coisas estão mudando. O atual presidente está sendo acusado de ter
ido à África 24 vezes. Preferiam que ele fosse à Nova York e Paris. E a
Fundação Alexandre de Gusmão, presidida pelo embaixador e ex-ministro da
cultura Jerônimo Moscardo, resolveu batalhar para que o afastamento dos nossos
continentes não ocorra mais.
Há
uma coisa curiosa acontecendo: o Brasil está ao mesmo tempo redescobrindo a
America Latina e a África. Já não é sem tempo. E, de repente, me vejo ali
naqueles amplos salões do Palácio Itamaraty, aqueles corredores, aquele lago onde
ainda nadejam cisnes, de repente, me vejo ali, diante de 29 embaixadores
africanos. Mas não são mais apenas os lusófonos. Ali estão representantes da
África mediterrânea e da África Subsaariana, que durante até o fim deste mês de
julho estão tomando um banho de Brasil. Dezenas de conferencistas e viagens a
pontos estratégicos e turísticos do país modificarão certamente a visão que
tinham do Brasil.
Vou
lhes dizer uma coisa: o continente que tem o maior deserto do mundo está
sedento de Brasil. Querem que uma jangada de pedra “saia daqui na direção
deles. Se eles têm, com razão, dificuldade em lidar com seus antigos
exploradores europeus, com aqueles que esquartejaram o continente como uma
presa abatida na caça, isto não ocorre em relação ao Brasil. Andei fazendo uma
série de sugestões, expondo projetos para aqueles diplomatas. Em tempos de
Copa, diria que a bola está na marca do pênalti, é só chutar em gol. Se o
Brasil bobear, a China acaba tomando conta da África inteira e sai na frente
neste outro tipo de campeonato.
Uma
literatura emergente e vigorosa está surgindo nos países de língua portuguesa
na África e o Brasil, com seus 200 milhões de habitantes é o grande consumidor
deste produto. Mas há outra emergente vigorosa literatura africana nos demais
países. Nesta semana o “Novel Observateur” fez uma reportagem sobre a nova saga
de autores de Ruanda, Congo e Somália. Por outro lado, a literatura brasileira
está madura para ser exportada.
E
aqui um desafio paradoxal: os colonizadores da África e Brasil, durante três
séculos, ficavam num vai-e-vem, negociando freneticamente, levando e trazendo
escravos e produtos, num tempo em que os navios levavam meses para a travessia
e não havia televisão, cinema, nem internet. Por que nós que nos vangloriamos
de ser independentes e criativos não podemos fazer melhor que eles?
Ou será que
continuamos com nossas mentes colonizadas encantados com o que o chamado
“circuito Elizabeth Arden” que, senhorilmente, se rejubila apenas com Paris,
Nova York e Londres?
Affonso Romano de
Sant’AnnaRetornar...
Brilhante constatação, Affonso. Bom sabermos que, além da diplomacia para com a nação irmã, pôde compartilhar com os diplomatas o desenvolvimento da literatura em seu país.
ResponderExcluirAffonso sempre prima pela coerência.
ResponderExcluirBjs
Belvedere