Fátima
Almeida
A
Marina Silva só não chegou ao segundo turno porque a ala progressista da Igreja
Católica não mobilizou, ressentida porque Marina tornou-se evangélica. Por
último, pretendeu que a mesma apoiasse Dilma Roussef. Mas Marina já tinha dito em entrevista,
agosto passado, que o povo brasileiro deveria pensar bem antes de votar em uma
pessoa que ninguém conhece. Mas a
verdade é que Dilma Roussef não é conhecida porque sua militância na extrema
esquerda durante a Ditadura Militar deu-se na clandestinidade, e mesmo tendo
participado da fundação do PDT, organizado debates com FHC e Wefort no IEPES,
ligado ao MDB - antes da cisão que gerou o PSDB - sempre atuou nos bastidores.
A sua projeção como gestora de minas e energia no Rio Grande do Sul e a rapidez
com que se tornou Ministra, e depois chefe da Casa Civil sobressaindo ombro a
ombro com o presidente denota que a sua candidatura à presidência é a
culminância de uma ascensão meteórica. Não dá para negar.
Muito
poucos entenderam o verdadeiro significado dessas eleições e da candidatura
Marina Silva que não é assentada num mero carreirismo, mas, numa proposta
consolidada, transnacional, trabalhada por movimentos sociais articulados do
mundo inteiro que lutam para reverter por toda parte esse modo de submissão do
Estado tão somente aos interesses do capital com sua lógica sempre perversa,
impedindo a expansão do capitalismo via restrição ao uso abusivo dos recursos
naturais não renováveis.
O
sistema capitalista não pode mudar a si mesmo, não pode deixar de ser
excludente senão não seria capitalismo. Sob a sua ótica a Amazônia não é vista
como um ecossistema com uma função vital
na manutenção das condições favoráveis à vida para todos os habitantes do
planeta, com suas variadas espécies, em equilíbrio cada vez mais precário. Para
o capitalista a palavra Amazônia significa tão somente madeira, lucros
contemplados pela extração, beneficiamento, exportação, fabricação de
artefatos, construção, entre outros. Para eles é um armazém que se pode saquear
indefinidamente, como se quiser bastando ter capital, com ajuda e apoio de
governos e políticos despreparados ou incompetentes ou corruptos.
A exploração de madeira na Amazônia não pode
ser vista sob um critério quantitativo,
um desenho no mapa, uma área uniforme,
que se pode ir diminuindo de forma
desorganizada e caótica, ou de forma organizada como nos tais planos de manejo.
A Amazônia nunca é pensada como um organismo vivo que possui especificidades
múltiplas, complexas, variáveis, e ao mesmo tempo interligadas ou estruturadas
de tal modo que a simples pesca de uma espécie de peixe não pode ser projetada
sem estudo seguro sobre as implicações ou conseqüências de tal atividade para
com o ecossistema e ainda, as suas interligações com os diversos ecossistemas
da região e depois do mundo todo.
Nesse
sentido quaisquer políticas que dêem apoio sistemático e permanente às
populações ribeirinhas, extrativistas, das áreas indígenas, são bem vindas e
necessárias, porque o grau de concentração demográfica é ínfimo e seu impacto
não é ameaçador como ocorre com grandes projetos como o mais recente, do
apresentador Ratinho e do consórcio de empresas as quais ele representa, com a
concessão pública de 150 mil quilômetros quadrados para exploração de mogno.
Mesmo essas políticas são atravessadas por corrupção praticada por lideranças
menores, mas, nem por isso,
menos nocivo.
Essa
mesma perspectiva é necessária a quaisquer políticas de exploração ou proteção
nos outros biomas, tais como cerrado, oceanos, etc.. Todo o espaço territorial
que já foi devassado, ocupado, de forma legal ou ilegal, para os fins típicos
do sistema capitalista ultrapassaram os limites do possível ou suportável para
a manutenção desses ecossistemas. Urge impedir o avanço da frente devastadora e
reordenar todo o espaço territorial já devassado desde 1500.
Os
danos são analisados e até monitorados por cientistas que não participam das
decisões políticas num Estado que se reduz a mero mantenedor do equilíbrio das
finanças, via incentivos fiscais, fiscalização, exportação e importação, dentro
de uma lógica que se exerce de forma autônoma sem contemplar as questões
sociais e ambientais que são duas faces da mesma moeda. Sem contar que o
sistema educacional instituído neste país favorece e muito à perpetuação da
distancia entre ciência, critica da ciência e povo. Nada se fez até hoje, nesse
país para um salto de qualidade no sistema da educação formal. Não se faz nunca
os investimentos necessários para uma educação capaz de superar esse distanciamento
e alçar a maioria a uma condição de observador e crítico ao mesmo tempo,
cidadão atuante e não um apátrida a receber esmolas do Estado. Só se faz
escolhas insensatas movidas pelo carreirismo político que se perpetua botando
seus ovos, quase sempre no mesmo nicho familiar.
O Lulismo se exerce sobre os princípios do
neoliberalismo e da globalização, com as multinacionais fazendo jogo de gato e
rato nos países emergentes para forçá-los a uma subordinação permanente, a
escamotear as contradições para manter uma estabilidade à custa do silêncio, da
omissão e do imobilismo. O mérito do Lula foi negociar com os banqueiros uma
pequena fatia do bolo para esfarelar e dirimir a miséria absoluta dos
apátridas. Como ele mesmo afirmou após receber uma sonora vaia durante carreata
por bairros nobres de Belo Horizonte foram os ricos que mais ganharam dinheiro
em seu governo. Só que o seu estrelato no
exterior que ele tanto cultiva vai chegar ao fim porque tudo chega ao fim, Brigitte
Bardot está obesa e velha. E Dilma, se eleita irá á Ópera em camarote de honra.
Isso
porque a força motriz dessa campanha tão acirrada e desesperada é o Pré-Sal,
uma jazida de petróleo estimada em cem bilhões de barris, por enquanto, que vai
tornar o Brasil o país mais poderoso do mundo. Investidores nacionais e
estrangeiros estão com as mãos em brasa para investir tudo no pré-sal, o que
explica o desespero dos petistas, ante a possibilidade de Serra gerenciar esse
processo. Vai mudar o eixo econômico das arábias para a América Latina. Mas o
modelo é o mesmo de há duzentos anos, produção e consumo de combustíveis que
lançam gases de efeito estufa na atmosfera. Como controlar o desvario e a
insanidade capitalista nesse processo de exploração. A quem confiar? Dilma ou
serra? E como é que os Verdes que apóiam Dilma foram se comprometer com tanta
energia suja? Marina não botou o pé na
lama, mas já sabe que vai ficar tudo muito mais difícil, pois vai ter tanto
dinheiro e venda de almas que o projeto de energia limpa vai acabar ficando de
molho. Daí, sua tristeza.
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Excelente artigo.
ResponderExcluirCarlos Fuentes- Buenos Aires