SALVE-SE
QUEM PUDER
*Fátima
Almeida
O
filme Nosso Lar, em cartaz nos cinemas do país, alcançou setenta por cento da
preferência popular numa enquete pela internet, da qual participaram 130 mil
pessoas em 12 dias. Apesar do sucesso de bilheteria - já levou dois milhões de
espectadores – e de ter a preferência da escolha popular para concorrer ao
Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o filme foi preterido por uma comissão de
nove pessoas integrantes do Ministério da Cultura, da Secretaria de Áudio Visual,
da Agencia Nacional de Cinema do Brasil e da Academia Brasileira de Cinema, em
favor do filme “Lula, o filho do Brasil”, o qual irá concorrer ao mais cobiçado
troféu, o da Academia norte-americana de cinema, como melhor filme estrangeiro.
São
muitas as justificativas, entre elas, o fato de que há um grande interesse pelo
nosso presidente no exterior, escolhido como “homem do ano” pelo jornal Le
Monde. Deve ser pura maldade, minha, pensar que isso se deveu a dois fatores: o
primeiro, que o nosso presidente, de pouca bagagem cultural, gosta de ser
bajulado, como é típico de pessoas assim; segundo, decorrente do primeiro, a
França sabendo disso, lhe deu destaque na mesma proporção dos negócios na área
da aviação que privilegiaram a economia daquele país.
A nossa
crítica considerou o filme “romantizado e heróico” e, “nada fiel”. O filme foi
patrocinado por empreiteiras, algo incomum no mercado brasileiro, segundo a Agencia Estado. A Ambev que também o co-patrocinou, fez com que a bebida preferida
pelo nosso presidente, no filme, fosse cerveja,
quando todo mundo sabe que a bebida a qual ele prefere é cachaça. Uma revista britânica comentou que o
filme mostra um Lula “higienizado” e mais, que “uma versão mais realista não
diminuiria o personagem”. Que mico!
O
filme Lula, o Filho do Brasil, custou seis milhões, mas o público ficou muito
abaixo do esperado. Nas duas primeiras semanas levou 472,9 mil pessoas às salas
de cinema, um quarto do que levou, no mesmo período, o sucesso nacional “Se eu
fosse Você 2” que atingiu seis milhões de espectadores. O recorde de bilheteria
de uma produção nacional pertence a D. Flor e Seus Dois Maridos que levou doze
milhões ao cinema.
Segundo
o jornal espanhol El País, o filme não teve o sucesso de bilheteria esperado,
nem boa repercussão na crítica, tendo estreado em quinto lugar na bilheteria,
passando, depois, a cair. A razão disso, conforme aquele periódico, seria a imagem “adocicada e pouco realista” de Lula,
no filme, bem como o fato “da população já conhecer muito a história de Lula,
preferindo vê-lo em cenas reais, usando linguagem popular e cometendo erros
gramaticais”.
A
bilheteria, aquém das expectativas não estaria sendo prejudicada nem mesmo pela
pirataria, visto que o filme não estaria sendo encontrado entre os camelôs nas
principais avenidas de São Paulo.
Meu
amigo petista de carteirinha que se empenhou tanto em enviar e-mails com a
enquete pela internet, pedindo votos para o filme Nosso Lar, deve estar
arrasado.
Mesmo
aqui no Acre, de maioria governista, o filme sobre o Lula não teve repercussão.
Eu não fui vê-lo, li as críticas pela internet. Já é demais, para mim, ver o
nosso presidente nos noticiários há oito anos. Além de sofrer ao imaginar que
ele poderá continuar como chefe de Estado, informalmente, já que Dilma Roussef
tem sido, também na prática, a real chefe de Governo. O Nosso Lar, ao contrário
está tendo repercussão, considerando-se que o público acreano esqueceu-se do
velho hábito de ir ao cinema. Eu mesma fui assistir Nosso Lar por duas vezes, algo
raro, votando nele na enquete feita pela Internet. Jamais imaginei que o puxa-saquismo, filho dileto do
apadrinhamento na ocupação de cargos públicos, fosse interferir também na
sétima arte, num total desrespeito à crítica e ao público.
Resta
saber se a Academia de Hollywood vai premiar o filme escolhido pela turma do
Governo. Ali, a maioria é de origem semita e, por isso mesmo gosta de premiar
filmes que denunciam o Holocausto. Não sendo preconceituosa, porém, com relação
ao espiritismo mesmo porque existem algumas correntes no judaísmo que acreditam
em reencarnação como necessidade de um plano de evolução para que os espíritos
alcancem a iluminação. Mas, acontece que o presidente Lula parece estar
correspondendo aos interesses de Washington na América Latina. Saberemos em
março se a presidência, naquele país, interfere em premiações de artistas, como
ocorre no Brasil.
Essa
tendência para roteirizar com base no espiritismo não é nova no Brasil, desde a
novela “A Viagem”, que foi baseada no mesmo livro Nosso Lar, homônimo do filme,
a abordagem dessa temática tem sido constante. Mesmo nos Estados Unidos, onde o
espiritismo não teve a acolhida e a expansão considerável que teve no Brasil, os
produtores têm conseguido grandes sucessos de bilheteria com filmes como Ghost,
Sexto Sentido, Além da Eternidade, O Mistério da Libélula, Amor Além da Vida,
Revelação, entre outros, com atores e atrizes consagrados como Kevin Costner,
Demi Moore, Michelle Pffeifer, Harrison Ford, Audrey Hepburn e Robin Williams.
Todos com trilhas sonoras belíssimas.
Nossos
atores e atrizes, por sua vez, não deixam a desejar. O sucesso de Chico Xavier,
que levou três milhões ao cinema, deveu-se muito ao desempenho de Cristiane
Torloni, Toni Ramos, este, inigualável quando faz cinema, Cássia kiss, Ângelo
Antonio e Nelson Xavier.
Nosso
lar custou vinte milhões e é a primeira vez que o cinema nacional investe em
efeitos especiais. O filme é impecável,
desde o trabalho dos atores, à concisão nos diálogos, à didática, à
surpreendente capacidade de traduzir uma visão de mundo, de forma coerente, no modo cinematográfico.
Wagner
de Assis, roteirista dos filmes da Xuxa e que roteirizou e dirigiu Nosso Lar, não
deixou por menos: a trilha sonora é de um respeitado compositor
norte-americano, Philip Glass, que compõe para teatro, Ópera e filmes, tais
como As Horas, um dos meus preferidos e Kundun, de Martin Scorcese, que também
amei, afora outros. A fotografia é do suíço Ueli Steiger que fez a do filme o
Dia Depois de Amanhã. Enfim, todo um esforço foi feito para qualificar, cada vez
mais, o cinema nacional. É uma pena que a politicagem esteja contaminando até a
arte.
Salve-se quem puder!
* Historiadora e Professora Acreana
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